Investimento de 50 Milhões no Calçado: Modernização no Setor ou Hipocrisia às Custas dos Trabalhadores?
Amanhã, sexta-feira, dia 15 de novembro, às 14h30, na DCSI Pro, em Estarreja, será apresentado o primeiro resultado do projeto FAIST (Fábrica Ágil, Inteligente, Sustentável e Tecnológica), uma iniciativa liderada pela APICCAPS e fortemente financiada com fundos públicos do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência). A cerimónia, presidida pelo ministro adjunto e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, é promovida como um passo para tornar a indústria do calçado “a mais moderna do mundo”. Contudo, à luz da realidade enfrentada pelos trabalhadores do setor, essa visão é, na melhor das hipóteses, uma ilusão fabricada para maquilhar a desvalorização dos trabalhadores que sustentam essa indústria.
Luis Onofre, presidente da APICCAPS, anuncia com entusiasmo que o projeto visa consolidar o setor como um exemplo global de sofisticação e tecnologia. Contudo, o que Luis Onofre e a APICCAPS preferem ocultar é que, por trás dessa imagem reluzente de inovação, permanece uma realidade árdua e desconfortável para milhares de trabalhadores de calçado, malas e marroquinaria em Portugal. Estas pessoas, que realmente sustentam a “modernidade” do setor, continuam com carreiras congeladas, subsistindo com um subsídio diário de alimentação de apenas 2,50 euros e sem qualquer progresso em negociações coletivas que garantam os seus direitos. A retórica de modernização e inovação é, portanto, uma cortina de fumo que esconde a falta de dignidade e reconhecimento aos trabalhadores.
APICCAPS e o Dinheiro Público: Modernização para Quem?
O FAIST, que envolve um consórcio de 45 empresas e entidades científicas e tecnológicas, é amplamente financiado com dinheiros públicos – um investimento de 50 milhões de euros do PRR. Entretanto, a APICCAPS, que administra esses recursos, foca-se em projetos de alta tecnologia, enquanto a realidade dos trabalhadores permanece estagnada. O que se espera, então, deste “avanço” financiado com dinheiro do povo português? Uma transformação que, em última análise, beneficia apenas uma elite empresarial, enquanto os trabalhadores, a espinha dorsal do setor, continuam presos a baixos salários e a condições de trabalho desatualizadas.
Como podemos aceitar que a APICCAPS e Luis Onofre falem em inovação e liderança global quando os próprios trabalhadores estão longe de ter garantidos direitos básicos e condições dignas de trabalho? É irónico, para dizer o mínimo, que o discurso de Onofre sobre “a indústria mais moderna do mundo” omita completamente os problemas estruturais que a APICCAPS perpetua ao recusar-se a valorizar os trabalhadores e a negociar de boa-fé. A suposta “vanguarda” que Luis Onofre exalta nas suas declarações não é mais do que uma fachada vazia, um espetáculo para justificar o uso de fundos públicos sem compromisso real com a justiça laboral.
O Apelo do SNPIC: Uma Nova Associação Patronal para uma Representação Verdadeira
O setor do calçado é um ecossistema onde os trabalhadores são tão essenciais quanto os empresários. Modernizar uma indústria implica, em primeiro lugar, respeitar os trabalhadores e garantir condições justas. Por isso, o SNPIC apela aos empresários para que se unam e criem uma nova associação patronal que represente genuinamente os interesses do setor, com um verdadeiro compromisso com a dignidade dos trabalhadores. A atual liderança da APICCAPS, encabeçada por Luis Onofre, claramente não está à altura dessa tarefa. Precisamos de uma representação que compreenda que o progresso do setor não se faz apenas com tecnologia, mas sim com a valorização dos recursos humanos que sustentam essa inovação.
Modernidade e Tecnologia Não Justificam a Exploração
O SNPIC reitera: modernização verdadeira e desenvolvimento sustentável no setor do calçado só são possíveis com um compromisso genuíno com a dignidade dos trabalhadores. Enquanto se gasta 50 milhões de euros em tecnologias e projetos ambiciosos, a realidade é que muitos trabalhadores vivem com o mínimo necessário, sem qualquer valorização das suas carreiras, que permanecem congeladas. Perguntamos, então, a Luis Onofre e à APICCAPS: que valor tem uma “indústria moderna” se aqueles que a constroem diariamente são deixados para trás?
Este é o nosso compromisso. Continuaremos a denunciar a hipocrisia de uma modernização que beneficia poucos e desrespeita muitos. Sem justiça para os trabalhadores, o futuro do setor do calçado em Portugal será apenas um palco de falsas promessas, onde a retórica de inovação esconde a exploração laboral.