De Negociações Falhadas a Carreiras Congeladas: A Crise Silenciosa do Calçado!
Portugal ergue-se orgulhosamente no palco internacional com calçados de alta qualidade, superados apenas pela elite italiana.
A quota do calçado em pele teve um aumento impressionante de dois pontos percentuais em 2022, marcando 69%. Estes produtos, destacados como sendo de "nova geração", são a bandeira do que o calçado português representa. Contudo, por trás deste desempenho estelar, há uma triste contradição que não pode ser ignorada.
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Paulo Gonçalves destaca a importância da economia circular na indústria do calçado. Mas por detrás desta retórica otimista, há um discurso que silencia as preocupações dos trabalhadores, o verdadeiro motor desta indústria. As negociações falhadas dos contratos coletivos em 2022 e 2023 lançaram uma sombra sobre a indústria. As carreiras estão congeladas e os subsídios de alimentação, essenciais para muitos, são irrisórios. Esta é a dura realidade que os trabalhadores enfrentam diariamente - Salário Mínimo, 2.5 euros de Subsídio de Alimentação e desmérito pelo seu trabalho.
Paulo Gonçalves, Diretor de Comunicação da APICCAPS
A exigência e o rigor do trabalho no setor do calçado são inegáveis. A incidência de doenças profissionais revela a natureza árdua desta profissão. Quando combinado com salários inadequados e a falta de reconhecimento, torna-se evidente por que os trabalhadores se sentem desvalorizados. E ainda assim, os empresários, desesperados por mão-de-obra, particularmente qualificada, parecem virar um olho cego para as necessidades dos trabalhadores.
O verdadeiro contraste emerge quando consideramos a imagem que a APICCAPS deseja projetar. Por um lado, aspira a posicionar a indústria do calçado português como uma "referência internacional". Por outro lado, a ausência de cuidados adequados e reconhecimento dos trabalhadores sugere uma desconexão alarmante. É como se a APICCAPS, na sua busca por reconhecimento global, esquecesse o coração da indústria: os trabalhadores.
A figura de Paulo Gonçalves começa a simbolizar esta dualidade. As suas palavras constantes falam de progresso e inovação, mas, para muitos trabalhadores, ele torna-se o rosto da hipocrisia. Os trabalhadores não são meros números ou uma engrenagem na máquina. São a essência desta indústria, e é imperativo que sejam tratados como tal.
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